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16 de outubro de 2012

Lista vermelha da extinção







Provavelmente todos os seres orgânicos que já viveram
nesta terra descenderam de uma única forma primordial,
na qual a vida foi primeiramente soprada pelo Criador.

–– Charles Darwin, "A origem das espécies" (1859).  



O aumento do desmatamento na Amazônia colocou mais de 200 espécies e subespécies de animais e pássaros em risco maior de extinção, segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês). Os dados pessimistas, que fazem parte do relatório de atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas em todo o planeta, foram apresentados em Hyderabad, na Índia, onde aconteceu a 11ª Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP11), megaevento que reuniu Chefes de Estado e ministros de 170 países, incluindo o Brasil, para avaliar o progresso em direção às metas para proteger a vida na Terra.

Entre os relatórios internacionais impactantes apresentados em Hyderabad está a lista de espécies declaradas oficialmente extintas neste começo de século e de milênio. São 10 espécies, incluindo dois pássaros da Amazônia brasileira, o João-de-barba-grisalha (Synallaxis kollari) e o Chororó-do-rio-branco (Cercomacra carbonaria), e o lendário Demônio da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). A única esperança para evitar a completa extinção é que, pelo fato de terem sumido da natureza há pouco tempo, alguns espécimes possam ter sobrevivido em zoológicos, centros de pesquisa ou locais ermos pelo mundo afora.

A conferência das Nações Unidas, concebida para proteger os recursos naturais do planeta, começou com o impacto das listas de espécies em extinção e muitos apelos para assegurar que a biodiversidade não se torne uma vítima da crise financeira global. Segundo a Agência Brasil, os delegados brasileiros e de outros países que participam da reunião de cúpula da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos tratados resultantes da Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, alertam que o mundo tem apenas uma década para evitar uma extinção generalizada das espécies, que também representa uma ameaça real e terrível para a Humanidade.









Lista vermelha da extinção: no alto,
nativos do Zimbawe, na África, posam
com um crocodilo gigante caçado pela
tribo no início de 2012 (AP Photo).
Acima, registro de queimada em setembro
de 2012 na Amazônia e mais um massacre
que tem se tornado corriqueiro: uma
carga clandestina de mais de 400 filhotes
de papagaios de uma subespécie
desconhecida, a maior parte morta
durante 
a viagem, apreendida pela
polícia em 
outubro de 2012 em um
veículo no 
interior de São Paulo.

Abaixo, uma 
revoada de periquitos
na Amazônia 
fotografada em janeiro
de 2012 por 
Tim Laman para a edição
internacional 
da revista National Geographic.
Também 
abaixo, uma estatística recente
publicada pela União Internacional para a
Conservação da Natureza (em inglês, IUCN) 






.   





Os números, compilados a cada quatro anos pela União Internacional pela Conservação da Natureza, são impressionantes: quase a metade das espécies de anfíbios, um terço dos corais, um quarto dos mamíferos, um quinto de todas as plantas e 13% das aves do planeta correm risco de extinção, segundo a “Lista Vermelha” das espécies ameaçadas. A relação incluiu 402 espécies na categoria "ameaçado de extinção", totalizando 20.219. A lista completa tem 65.518 espécies, considerando outras categorias, como "quase ameaçado" e "extinto".

A última conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), celebrada em Nagoya, no Japão, havia adotado em 2010 um plano mundial para reverter a perda da biodiversidade até 2020. Mas, desde então, tem sido difícil para os comitês e emissários da ONU levantar centenas de bilhões de dólares necessários para financiamentos. Especialmente nos dias atuais, em que os países desenvolvidos estão às voltas com quadros de crise econômica.



Criticamente ameaçados



Entre as muitas espécies da Amazônia incluídas na “lista vermelha” está o Chororó-do-rio-branco (Cercomacra carbonaria), marcado como “próximo da extinção”. De acordo com a associação internacional BirdLife, a espécie ocupa áreas muito pequenas entre o Brasil e a Guiana. As maiores ameaças são a construção de novas estradas em seus habitats para servir à economia de gado e soja. De acordo com projeções atuais, estes habitats terão desaparecido completamente em 20 anos.

O BirdLife também rebaixou o João-de-barba-grisalha (Synallaxis kollari), da mesma região de Rio Branco, na Amazônia, de “ameaçado” para “criticamente ameaçado.” A organização afirma que o pássaro tem apenas 206 quilômetros quadrados de habitat adequado e eles podem encolher 83,5% nos próximos 11 anos. O relatório culpa o enfraquecimento do Código Florestal do Brasil pela taxa de desflorestamento na Amazônia e em todo o território brasileiro.









Dois pássaros brasileiros na
lista vermelha criada pelo
BirdLife, que indica situação
irreversível de extinção. Acima, o
Chororó-do-rio-branco. No alto,
João-de-barba-grisalha. Abaixo,
um flagrante feito pelo fotógrafo
Chico Ribeiro sobre a destruição e o
impacto do criminoso Agronegócio
para exportação nas áreas do Pantanal,
na região centro-oeste do Brasil, que
perdeu mais de 75% de suas águas
e suas nascentes nos últimos anos











A “lista vermelha” do BirdLife cobre mais de 10 mil espécies de pássaros no mundo, 197 dos quais aparecem como “criticamente ameaçadas”. Além disso, 389 aparecem como ameaçadas, 727 como vulneráveis e 800 como “quase ameaçadas”. Apenas uma espécie da lista melhorou sua condição na atualização: um dos pássaros mais raros do mundo, o Pomarea (Pomarea dimidiata), avançou de “ameaçado” para “vulnerável”. Endêmico nas Ilhas Cook, no Pacífico Sul, tinha apenas 35 indivíduos em 1983. Esforços de conservação, incluindo programas de criação em cativeiro e remoção de predadores, aumentaram a população para 380 indivíduos.



Origem das espécies



Na época em que o termo "ecologia" foi descrito pelo biólogo alemão Ernst Haeckel (1834–1919) no seu livro “Generelle Morphologie der Organismen” (1866), para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, o mundo natural considerado estático e sem mudanças desde a criação original já havia sido questionado pelo estudo genial do naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809–1882). A teoria de Darwin ainda hoje soa como revolucionária, mas ele conseguiu convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução ao reunir algumas hipóteses para explicar seu raciocínio sobre como o processo aconteceu durante milhares de milhões de anos. Segundo Darwin, a evolução, ao passo da seleção natural, deu origem à diversidade de espécies vegetais e animais pelos quatro cantos do planeta Terra.







Charles Darwin e o percurso da viagem
 de pesquisa no século 19, a bordo do barco
inglês HMS Beagle. Abaixo, iguana no
parque dedicado à memória de
Charles Darwin nas Ilhas Galápagos,
no Oceano Pacífico, território do
Equador, fotografada por David Braun










Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies” (em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), Darwin introduziu ideias que, em sua época e no século seguinte, levariam a comunidade científica a perceber que as novas descobertas do naturalista acabavam com a importante distinção entre homem e animais. Em paralelo a outras revoluções científicas em curso em seu tempo, o naturalista inglês marcou um capítulo dos mais fundamentais na civilização contemporânea.

Mais de 150 anos depois da publicação dos estudos revolucionários de Darwin, a lista atualizada de animais definitivamente extintos coloca em evidência o maior desafio que se impõe em nossos dias à espécie humana: a preservação da vida no planeta Terra. A lista de animais e plantas ameaçados de extinção é extensa e potencialmente infinita, ainda que mídia e opinião pública concentrem alguma referência somente em baleias, ursos polares e pandas. Veja, na listagem abaixo, alguns tristes registros de espécies que entraram para a “lista vermelha” da extinção.



Extintos no século 20







Rinoceronte Negro   Subespécie que teve por habitat Camarões, na África Ocidental, o Rinoceronte Negro Africano (Diceros bicornis longipes) foi oficialmente declarado extinto em 2011. O motivo: caça implacável para a venda de seus chifres no mercado negro. Aos chifres são atribuídas propriedades terapêuticas e afrodisíacas, embora não haja comprovação científica.







Tartaruga Gigante de Galápagos   Última das tartarugas gigantes (subespécie Chelonoidis nigra abingdon) que dão nome às Ilhas Galápagos, do Equador, o mundialmente famoso Jorge Solitário morreu em junho de 2012, aos 100 anos de idade. Outras espécies de tartaruga da ilha também estão sob risco, devido à baixa taxa de crescimento da população, a maturidade sexual tardia e o endemismo da espécie.

 







Tigres ou Lobos da Tasmânia em
fotografias do Zoológico de Hobart,
Austrália, datadas da década de
1930. Acima, exemplar mumificado 
atualmente em exibição na
Universidade de Sidney



Tigre da Tasmânia –  Nativo da Austrália e da Nova Guiné, o Tilacino (Thylacinus
cynocephalus), mas conhecido como Tigre ou Lobo da Tasmânia (não confundir
com o Diabo da Tasmânia ou Demônio da Tasmânia, animal feroz retratado como
Taz no desenho animado da TV, que é parente dos ursos e que também está ameaçado de extinção) é considerado o maior marsupial conhecido dos tempos modernos. Foi extinto pela ação indiscriminada de caçadores e perda de habitat devido à ocupação humana. O animal tinha locomoção firme e um tanto esquisita, impossibilitando-o de correr em alta velocidade. Podia também realizar um salto bípede, de uma forma similar à do canguru. Os últimos exemplares morreram no Zoológico de Hobart, na Austrália, em 1936, mas apesar de ser oficialmente classificado como extinto, ainda há relatos de avistamentos em áreas mais
isoladas da Austrália.







Bucardo –  A subespécie de cabra Bucardo (Capra pyrenaicatem) tem uma das histórias mais interessantes entre os animais extintos, uma vez que foi a primeira espécie a ser “ressuscitada” por meio de clonagem, em 2003, morrendo apenas sete minutos depois de seu nascimento por insuficiência pulmonar. Era natural da cordilheira dos Pireneus, entre Andorra, França e Espanha. Sua população foi reduzida devido a uma perseguição lenta, mas contínua. No final da década de 1980, a população foi estimada entre 6 e 14 indivíduos. O último a nascer naturalmente morreu em 6 de janeiro de 2000, aos 13 anos.






Pardal Marinho  –  Subespécie não migratória encontrada no sul da Flórida, nas salinas naturais de Merritt Island e ao longo do rio St. Johns. O último Pardal Marinho (Ammodramus maritimus nigrescens) morreu em 17 de junho de 1987, mas só em 1990 o animal foi declarado oficialmente extinto. A população começou a declinar em 1940, quando as autoridades locais passaram a pulverizar a região pantanosa com pesticida, para controle dos mosquitos. O veneno contaminou a cadeia alimentar das aves, que gradativamente entraram em extinção.







Foca-monge do Caribe  –  Espécie descoberta por Cristóvão Colombo em sua segunda viagem à América, em 1494, a Foca-monge do Caribe foi declarada oficialmente extinta em 1952. Sobre ela escreveu Colombo: “Descobri um tipo maravilhoso de foca. São médias, tímidas e aparentemente têm boa pele, o que dá pra fazer casacos”. Daí em diante, o animal foi explorado como fonte de alimento (sua banha também era usada para iluminação e lubrificação) e para o comércio de peles. Desapareceu completamente a partir de 1952.







Huias  –  Nativas da Nova Zelândia, essas aves de plumagem preta, com a ponta das asas e cauda branca, papos laterais de cor laranja, foram extintas pela caça desenfreada. O exotismo das Huias (as fêmeas tinham bicos longos e curvados enquanto nos machos eles eram radicalmente curtos) e de outras espécies locais levaram os exploradores britânicos a fomentar a crença de que toda a flora e a fauna da colônia neozelandesa eram ruins e deveriam ser substituídas por variedades dos países europeus. O último registro visual confirmado de uma Huia ocorreu no final da década de 1970. 










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Caça ao tigre: lazer e aventura
para a "nobreza" e a aristocracia
da Europa, em suas viagens pelas
colônias do Oriente, foi uma prática
incentivada e celebrada desde
meados do século 19







Tigres de Java  –  Subespécie imponente, o maior dos felinos vivia na ilha de Java, na Indonésia. No início do século 19, eram tão temidos que tornaram a ilha um tabu para navegadores e colonizadores do Ocidente. Com o aumento da população humana e com queimadas fora de controle, a maior parte da ilha tornou-se área de cultivo, resultando em uma redução grave no habitat natural dos animais. Para se livrar do perigo, os homens caçavam os tigres. Os safáris de matanças, com o passar do tempo, seriam transformados em programa requintado de lazer e aventura para a aristocracia da Europa na ilha e nas demais colônias do Oriente. O último Tigre de Java foi caçado e morto no final do ano de 1972.


por José Antônio Orlando.



Como citar:

ORLANDO, José Antônio. Lista vermelha da extinção. In: Blog Semióticas, 16 de outubro de 2012. Disponível no link http://semioticas1.blogspot.com/2012/10/lista-vermelha-da-extincao.html (acessado em .../.../...).











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